segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Por um reencantamento do Mundo...de nós mesmos...




Saudações! Namastê!

Participei do mini-curso ministrado na Semana de Biologia pela Priscila e a Lígia e durante o mesmo, a partir dos comentários de alguns participantes e principalmente de um companheiro do Rio Grande do Norte (o Gustavo), tracei um pensamento que agora tento (re)lembrar (difícil tarefa) em uma tentativa de exercitarmos um pouco nosso pensamento e parafraseando o Clifford Geertz: “alargar nossa compreensão” acerca das questões ambientais.


Inicio lembrando a todos da ascensão do Iluminismo, com todos os seus pensadores e conseqüências que teve para a nossa vida (pós)moderna. Entretanto, foco em três pensadores que “revolucionaram” o pensamento científico, no sentido de estabelecerem um paradigma que até hoje utilizamos: Isaac Newton, Francis Bacon e Reneé Descartes. Diante das Ciências Naturais, esses grandes cientistas (apesar de tudo, não procuro negar a contribuição dos mesmos) se debruçaram em seu “objeto” de estudo: a Natureza. E como fazer isto?

Nas palavras dos próprios pensadores, eles deveriam se debruçar sobre a natureza; arrancar a verdade dela, como se tira as entranhas de um animal; torturá-la e subjugá-la até que a mesma se rendesse a força do homem (com “h” minúsculo mesmo). Não estranhe se você, caro leitor e cara leitora, por um momento se lembrarem da Santa Inquisição. Vamos voltar um pouco nessa medida nem sempre tão linear que é o tempo.


Diz-se que as antigas religiões veneravam as forças da natureza, mas talvez poucos procurem remeter como essa natureza era simbolizada. Para “o homem das cavernas”, o fato mais intrigante era a mulher! Como um ser poderia tirar outro de dentro dela? Como um ser sangrava em períodos regulares de tempo (menstruação) e não morria, já que para um homem, sangrar em excesso significaria a morte iminente (já que eram basicamente caçadores e isto era um fato corriqueiro na vida dos mesmos). Surge então a Deusa Mãe, basicamente representada pela terra, por Gaia, por Ceridween, Virgem Maria ou qualquer nome que desejamos dar (até na Santíssima Trindade o feminino foi negado: “Em nome do Pai, Filho e Espírito Santo”). Evitarei aqui entrar em análises minuciosas sobre o fato simbólico/religioso, já que o meu objetivo é que o leitor e a leitora terminem esta postagem.


Então o tempo foi passando....

Veio aí um livro chamado Bíblia e que nele consta que Deus (agora já assumiu a forma masculina) deu ao homem (que foi gerado antes da mulher) o poder de dominar tudo o que vive sob a terra (Meu Deus...quantos erros de interpretação não foram dados a partir deste trecho). Passemos...passemos...


Santa Inquisição. Deus homem, impiedoso, castigador. A mulher era dotada do pecado (muitas vezes por suscitar o desejo dos padres e que estes últimos viam-se em conflito com o celibato), da luxúria, era o corpo para que Satã atuasse sobre a terra. E como subjugar este mal? Torturas...


E agora vem a primeira analogia deste pensamento. Os grandes pensadores que praticamente fundaram o pensamento científico adotaram conceitos utilizados pela Santa Inquisição (já que todo o contexto sócio-histórico da época era profundamente influenciado pela mesma) e aplicaram na formulação das Ciências Naturais. Isto acabou ocasionando toda uma forma de perceber o mundo que ainda hoje perdura. Que devemos controlar a natureza, extraindo dela todos os recursos possíveis para nosso ganho e acúmulo de capital, procurando manter um padrão de vida X. Alienação! Sim sim...Karl Marx e toda a sua teoria. Estamos condicionados a acreditar que devemos possuir um determinado padrão de vida e que só podemos alcançar o mesmo, adotando práticas não-sustentáveis, mas... quem se importa? “Dane-se o planeta!”


O tempo passa... deixamos Karl Marx “de lado” e passamos para a Modernidade. Aí vem um “carinha” chamado Max Weber e fala sobre o processo de desencantamento do mundo. A ciência, por si só, desencantou o mundo. E onde antes existiam fadas, elfos, espíritos da floresta, Deusa Mãe e até mesmo deuses...tornaram-se apenas lendas de sociedades primitivas. Nós, enquanto membros de uma sociedade moderna, não deveríamos acreditar em tais charlatanices. Seria perda de tempo e dinheiro. Mais uma vez a destruição da Natureza encontra respaldo em teorias científicas. Se antes protegíamos as matas porque eram os locais onde os “encantados” moravam... hoje não importa mais!


Mas vamos deixar a modernidade para trás...sim sim sim!


Chegamos à pós-modernidade. E o que encontramos? Um verdadeiro caldeirão onde tudo é misturado e no final, encontramos uma verdadeira “sopa”. Mas talvez isto não venha ao caso. Apenas quero que todos observem o processo que está acontecendo: “reencantamento do mundo”. Hoje estamos dotando novamente as florestas de espíritos e entes mágicos; resgatamos a Antiga Tradição, para todos aqueles que a seguem, abençoados pelo céu e a terra, o Sol e a Lua; estamos aprendendo a questionar conceitos impostos e adotar outros; estamos saindo de uma crisálida de ignorância e nos transformando em borboletas pensantes.


Reconheço que o que falei durante o mini-curso foi bem mais intenso e completo (no calor do momento, naquela efervescência tudo flui melhor). Apenas quis deixar registrada aquela breve troca de pensamentos que resultou em uma linha (tênue talvez) de uma Grande Teia. Quis fazer com que todos observem que até mesmo determinados acontecimentos que consideramos à parte de nossa problemática sócio-ambiental, podem ter graves conseqüências. Afinal, tudo não está interligado?


Sejamos Borboletas de Luz Policromática... reencantando o Mundo e a nós mesmos!



2 comentários:

  1. Nossa eu amei o texto.... Parabéns Caju e Obrigada por compartilhar com todos, que possivelmente venham a ler este Blog, o pouco da discussão que suscitou-se durante as proveitosas horas que foram as do minicurso Permacultura e Ecovilas da Semana de Biologia(UFPB)..Ressaltando que nesta discussão nós conseguimos levantar e interrelacionar muitas questões..mas assim num texto bem escrito é bem legal de ver, de ler e poder refletimos o que o nos deixa a pensar estas palavras. Borboletas!

    ResponderExcluir
  2. Que texto bom, Caju, valeu! a reflexão filosófica é sempre refrescante e pensar a permacultura na perspectiva de uma saida para o aprisionamento do pensamento dessa civilização cristã ocidental, a qual somos parte, é muito pertinente, por que é difícil! afinal nascemos, nos criamos e somos mentalmente treinados prá ser assim. Os fenomenologistas já mostravam isso há muito tempo, desde o século XIX, mas até hoje, a ciência aceita e respeitada como tal é a positivista....são muitas barreiras a transpor. Só mesmo a união prá viver fora da matrix! Ahô, hermano!

    ResponderExcluir

Devaneias